Machismo



    
Por Luis Bacedoni
      
        Esta semana, em que a Secretaria do Trabalho e Ação Social trepidou, por conta dos cortes feitos pelo secretário Neiron, afastando o PMDB da pasta, visitei o pessoal do Bolsa Família, o programa social, com finalidade eleitoral do Governo Federal. Uma das revelações que mais me causou espanto é a de que é frequente entre as famílias mais pobres o homem impedir que a mulher utilize qualquer método contraceptivo. Pode? Mas, segundo a Marlusa, coordeandora do “Borsa”, ocorre mesmo! E a explicação é puramente machista. Eles não querem correr o risco de levar guampa. Pode? Pode!
A situação é mais séria do que se possa imaginar e as consequências sociais, também. A realidade demonstra que em boa parte dos casos,  em que o homem impede o acesso da mulher aos métodos anticoncepcionais, temendo que ela terá total liberdade, inclusive para corneá-lo, as famílias são numerosas. Há uma em que já são 10 filhos. Os técnicos sugeriram uma ligadura de trompas para ela, mas o maridão enlouqueceu e disse que a pem supor que sua testa possa sofrer qualquer alteração. Porém, se permite todos os finais de semana sair para as festas. Na sexta-feira, ele se emperiquita todo, pega o carro velho, que só pega na descida, e se some. Á ela, só resta cuidar da filharada.
       Ainda bem que para toda a regra sempre há pelo menos uma exceção. Uma amiga minha passava pelo mesmo drama, mas decidiu virar o jogo, virar a mesa e dar as cartas. E olha que nem precisou recorrer à Maria da Penha. Cansada dos abusos do parceiro, um dia se fez de louca, inventou uma crise e jogou a casa para cima dele. Filhos, ela teve três e não quer saber mais da experiência da maternidade.
       - Ah, é muito lindo pras outras, pra mim chega - declarou.
Outro dia, ela indignou-se com ele e protagonizou uma cena que deixou os vizinhos chocados. Contraridada, porque o marido recusava-se a limpar uma valeta tomada pelo mato, situada em frente à casa, ela pegou um cinto, com uma fivela metálica, ornamentada com a cabeça de um cavalo, e deu uma surra nele. Não houve argumento que chegasse em tempo.
      - Quem tem que fazer isso é o Ghignatti - dizia ele, embaixo do mau tempo.
      - Aquele também merece umas lambadas - retrucava ela.
No mês que vem, a danada pretende viajar para a Capital, para visitar os familiares. Disse que vai tirar umas férias, inclusive do marido. Ela disse que ele tem que viver sozinho para aprender a dar valor à relação. O único filho que ainda mora com ela foi para o Litoral. Ela prentede ficar 15 em Porto Alegre, destino de todo o verão, mesmo antes de conhecer o que chama de “traste.”
       - Vou sair um pouco pra aliviar a cabeça - avisou ela, durante outro quiproquó. E antes de pegar no sono, sentenciou:
        - Quando eu voltar, tomara que tu tenha pegado na Granol... senão...

Crônica publica no Jornal O CORREIO, em fevereiro de 2010

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