BEBEMORANDO

LUIS BACEDONI

Aproveitei a véspera de feriado, esta semana, para dar uma volta pela noite cachoeirense. Fui à New House, a mais movimentada casa noturna da cidade, e reencontrei uma punhado de gente festeira, animadíssima, apesar do preço da cerveja (R$ 5,00) e da medonhice do tal pagode universitário. Tudo era festa. Mesmo com a locomoção prejudicada na casa superlotada, enxerguei G. (vou preservar a identidade dele, afinal, na noite da New House, tudo que é gato é pardo). Havia tempo que não cruzava com G, que pareceu-me estar na faixa do sobrepeso.
Com muito custo, abri brechas na massa e consegui chegar até o animado garotão - G não dá indícios de seus 3.8 - que contou-me, já enrolando a língua, que estava na festa para bebemorar os 150 anos da cidade. Pretexto melhor não havia, especialmente se tratando de marido de mulher ciumenta e pai de alguns filhos. Com a maior cara de pau e com a ceva peso de ouro na mão, prometia barbarizar pista, uma novíssima performance, segundo ele, em homenagem aos índios que, há um século e meio, acampanharam na Aldeia.
- Olha só, cuida só... avisou ele.
Antes mesmo da música começar, G. pegou uma magra pela cintura, grudou nela e ficou no ponto. O pagode universário correu solto e só e G. enloqueceu, literalmente. Cheguei a desconfiar que a magrela não fosse aguentar o tranco. Em uma daquelas abaixadinhas, percebi que a barriga de G. estava fora do leito normal, nada que comprometesse aquela desenvoltura impressionante. No meio da música, o bagaceiro do Zé chegou a dizer:
- Cuida, acho que ele vai entrar pra dentro dela...
Parecia mesmo, do jeito que G pegava a magra, dava a impressão que um dos dois seria suprimido, antes da pagodeira terminar. Encerrada a música - muito pior do que aquela da “Chupa que é de uva,” - G. olhou para nós com uma cara de quem sabia que tinha roubado a cena.
- Bah, mas não vão cantar parabéns pra cidade? - despistava ele, preparando-se para a próxima dança. Naquele momento, a magra deixava o banheiro revigorada, com os olhos arregalados, como se tivesse levado uma surra. A sainha minúscula que a guenza usava estava torta, deixando exposta meia bunda. Pelo jeito não se ressabiou e estava pronta para outro saracoteio daqueles.
- Bei, ela vai de novo!- observou o Zé.
No palco, a banda convocou a massa para cantar parabéns pra cidade. G. soltou o refrão antes da hora, praticamente foi ele quem regeu a turba. Era sem dúvida o festeiro mais animado dos 150 anos. Feliz da vida, disse que arrasaria, promessa que acabou ficando para o próximo 8 de Dezembro:
- G., sua mulher e sua filha estão lá na portaria te aguardando - avisou o D.J.

Ilustração retirada da internet
(Crônica publicada na edição de 11 e 12 de dezembro do Jornal O Correio de Cachoeira do Sul)
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